Acordar e ainda assim sentir o corpo pesado. Dormir muitas horas e, mesmo assim, continuar exausto. Parece familiar? Há quem encare o sono prolongado como descanso, mas nem sempre dormir demais é sinal de que estamos bem. Em muitos casos, pode ser o corpo e a mente a tentarem dizer que algo não está no lugar certo.
A psicologia explica que o sono em excesso, tecnicamente chamado de hipersonia, pode estar ligado a emoções reprimidas, desequilíbrios internos e até mesmo a situações de esgotamento profundo. E quanto mais ignoramos os sinais, mais o corpo insiste em chamar a atenção.
Dormir para fugir do mundo lá fora
Em tempos de ansiedade, tristeza ou desorientação emocional, o sono pode tornar-se um refúgio. Um escape silencioso. Quando a mente se sente sobrecarregada, dormir é uma forma de desligar, ainda que temporariamente, do barulho interior.
Quem vive um período de luto, passou por mudanças abruptas ou guarda feridas emocionais antigas pode sentir esta necessidade de dormir mais do que o habitual. O cansaço nem sempre é físico; às vezes, é a alma a pedir descanso.
As emoções por trás do excesso de sono
Transtornos como depressão, ansiedade ou mesmo o chamado distúrbio afectivo sazonal, comum nos meses com menos luz solar, estão entre as principais causas da hipersonia. Nessas fases, é comum que falte energia até para o mais simples dos gestos.
Além disso, factores como isolamento social, uso excessivo de ecrãs, alimentação desequilibrada ou o uso de certos medicamentos podem agravar a vontade constante de dormir. A rotina desconectada da luz natural, da presença de outros e de cuidados básicos pode tornar o sono excessivo num sintoma claro de desequilíbrio.
Quando o descanso deixa de ser reparador
Dormir muito não é, necessariamente, sinónimo de bem-estar. Quando o excesso de sono se instala, pode trazer consigo efeitos contrários: mais fadiga, falta de concentração, irritabilidade e até dores físicas. O ritmo do corpo desregula-se, a produtividade cai e as relações podem ressentir-se.
Sem perceber, instala-se um ciclo difícil de quebrar: quanto mais dormes, mais cansado te sentes. Mais difícil se torna sair da cama, mais difícil se torna enfrentar o dia. O relógio biológico começa a perder a noção do que é natural e saudável.
Como perceber se o teu corpo está a pedir ajuda
Dormir nove horas ou mais por dia com regularidade, sem causa médica identificada, pode indicar a necessidade de uma avaliação mais profunda. Se, além disso, te sentes triste com frequência, tens dificuldade em manter interesse por actividades ou te isolas dos outros, pode estar a acontecer algo que merece cuidado.
A consulta com um psicólogo ou médico pode ajudar a identificar as verdadeiras razões desse cansaço persistente e, mais importante, apontar caminhos de recuperação.
Nem sempre dormir é só descanso
O sono é essencial, mas o excesso pode esconder dores que ainda não conseguiste nomear. Dormir demais pode ser uma forma de fuga, de silêncio, de pausa emocional. E isso merece atenção, não julgamento.
Mais do que procurar dormir menos, o verdadeiro caminho é perceber por que estás a dormir tanto. O que o teu corpo quer dizer? Do que estás a fugir? O que está a pedir cuidado, mesmo que baixinho?
Porque, às vezes, o primeiro passo para o equilíbrio é escutar com delicadeza o que o teu cansaço quer contar.