Começas um projecto cheio de entusiasmo, já a imaginar o resultado final, mas passado pouco tempo perdes a motivação, adias, evitas e… abandonas. Fica ali, mais um plano a meio, a pesar-te na consciência. Soa-te familiar?
Mais do que uma questão de preguiça ou distração, deixar coisas por terminar pode esconder causas emocionais profundas. E o impacto vai muito além do que se vê. Aos poucos, começa a afectar a forma como te vês, a confiança nas tuas capacidades e até a forma como te relacionas contigo próprio.
O medo escondido por trás da desistência
Muitas vezes, o verdadeiro motivo para largarmos um objectivo é o medo do fracasso. Preferimos desistir do que enfrentar a possibilidade de não sermos bons o suficiente. É como se o abandono fosse uma forma de nos proteger da crítica dos outros e de nós próprios.
Mas há também um medo menos falado: o medo de ter sucesso. Porque quando atingimos um objectivo, surgem novas responsabilidades, mudanças e expectativas. E nem sempre nos sentimos preparados para lidar com isso.
Quando o perfeccionismo atrapalha mais do que ajuda
Outro motivo comum é o perfeccionismo paralisante. Quando te impões padrões altíssimos e acreditas que só vale a pena continuar se for “perfeito”, qualquer falha torna-se um motivo para parar. Em vez de te adaptares ao processo, ficas preso numa ideia idealizada, e irreal, de como as coisas deviam ser.
E se a frustração aparece pelo caminho, pode ser o fim. Pessoas com baixa tolerância à frustração tendem a desistir assim que algo corre fora do esperado, como se isso validasse a ideia de que “não são capazes”.
Autoestima e crenças que limitam sem que percebas
Muitas vezes, a raiz está na autoestima fragilizada. Quando duvidas do teu valor ou da tua capacidade, tornas-te o teu pior crítico. Inicias algo, mas logo aparecem pensamentos como “isto não é para mim” ou “nunca vou conseguir”. São crenças limitantes, normalmente formadas a partir de experiências antigas, que te convencem de que é mais seguro não tentar.
O problema é que quanto mais desistes, mais fortaleces essa narrativa interna. E isso pode transformar-se num ciclo difícil de quebrar.
É possível mudar esse padrão com gentileza
O primeiro passo é parar de te julgar. Esse comportamento não define quem és. Há razões legítimas por trás, e a boa notícia é que existem formas de o transformar. Aqui ficam algumas sugestões:
- Pratica o autoconhecimento. Observa como te sentes quando começas algo novo. E quando pensas em desistir. O que está mesmo por trás disso?
- Define metas realistas. Em vez de um grande objectivo abstracto, divide o processo em pequenas acções concretas. Cada passo dado reforça a tua motivação.
- Aceita os erros como parte do caminho. Errar não é falhar. É aprender. A persistência conta muito mais do que a perfeição.
- Procura apoio se precisares. Um psicólogo pode ajudar-te a identificar padrões de autossabotagem e construir novas formas de te relacionares com os teus objectivos.
Mais importante do que terminar tudo é aprender a confiar em ti
Nem tudo o que começas precisa de ser concluído. Às vezes, desistir faz parte do processo de nos conhecermos melhor. Mas quando o hábito de largar tudo a meio se repete, talvez seja hora de olhar com mais cuidado para o que está a acontecer dentro de ti.
A boa notícia é que podes reescrever essa história. E cada vez que escolhes continuar, mesmo com dúvidas, mesmo com medo, estás a provar a ti próprio que és capaz. E isso muda tudo.