Quando o cansaço aperta e tudo o que queremos é um empurrão para continuar, a tentação de recorrer a bebidas energéticas pode ser grande. São doces, coloridas e prometem energia imediata. Mas por trás deste efeito rápido esconde-se uma realidade que pode colocar a saúde em risco, especialmente a do coração.

O que se esconde dentro de uma lata de energia

Estas bebidas concentram doses elevadas de cafeína, muitas vezes associadas a substâncias como taurina, guaraná e ginseng. Juntas, bloqueiam a adenosina, que é o sinal natural de que o corpo precisa descansar e aumentam temporariamente a dopamina, criando uma falsa sensação de alerta e euforia.

O problema? Esse “choque” acelera todo o organismo. Aumenta a frequência cardíaca, a pressão arterial e até os níveis de açúcar no sangue, criando uma sobrecarga que pode ser perigosa, especialmente em adolescentes e jovens adultos. O cérebro ainda em desenvolvimento é especialmente sensível a esse tipo de estimulação.

O que os estudos nos dizem sobre os efeitos reais

Uma análise de mais de 50 estudos, feita por investigadores das universidades de Teesside e Newcastle, revelou ligações preocupantes entre o consumo frequente de energéticos e problemas como:

  • Ansiedade, stress e depressão
  • Crises de pânico e pensamentos negativos
  • Comportamento impulsivo ou agressivo
  • Uso precoce de álcool e outras substâncias
  • Perturbações do sono
  • Rendimento escolar mais baixo
  • Hábitos alimentares desregulados

Os dados mostram ainda que os rapazes consomem mais energéticos do que as raparigas, o que pode explicar diferenças nos padrões de sono e comportamento durante a adolescência.

E quando se mistura com álcool?

Uma prática comum em festas é juntar energético com bebidas alcoólicas. E esse é um dos cenários mais perigosos. A cafeína mascara os efeitos do álcool, fazendo com que a pessoa não sinta o quanto está intoxicada. Isso leva a um consumo excessivo, perda de controlo e aumento do risco de overdose. Para o coração, esta mistura é uma bomba: pode provocar arritmias, picos de pressão e colapsos circulatórios.

O que falta para proteger os mais novos?

Apesar das recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria contra o consumo por menores de idade, a venda continua livre no Brasil. Em países como a Lituânia ou a Letónia, as bebidas energéticas já são proibidas para menores de 18 anos.

Há propostas em andamento para mudar isso, mas enquanto não há uma legislação firme, o melhor mesmo é informar, sensibilizar e orientar.

Há formas naturais (e seguras) de aumentar a energia

A boa notícia é que não precisamos de atalhos artificiais para nos sentirmos mais activos e bem-dispostos. Segundo o neuropediatra Marcelo Masrula, o segredo está em cuidar do corpo com atenção e respeito:

  • Dormir bem, com horários regulares e ambiente tranquilo
  • Comer de forma equilibrada, apostando em alimentos naturais e evitando processados
  • Mexer o corpo com prazer, nem que seja uma caminhada ao ar livre
  • Apanhar sol e respirar natureza, sempre que possível
  • Hidratar-se bem, bebendo água ao longo do dia
  • Fazer pausas conscientes, com respiração profunda e alongamentos
  • Praticar técnicas de relaxamento, como meditação ou mindfulness

Energia verdadeira vem de dentro

O cansaço é um aviso do corpo, não um inimigo a ser calado. E por mais que as bebidas energéticas ofereçam um alívio rápido, o preço pode ser alto, para o coração, para a mente e para o equilíbrio geral.

Cuidar da tua energia é também cuidar de ti. Com escolhas simples, conscientes e sustentáveis, é possível viver com mais vitalidade, presença e saúde, sem precisar de atalhos.

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