Já deste por ti a usar uma expressão que nunca tinhas ouvido há uma semana? Ou a partilhar um meme sem saber bem porquê, só porque “está em todo o lado”? Isso é o que acontece quando o comportamento colectivo online nos apanha e nem sempre percebemos.
Na verdade, as redes sociais são um palco onde tendências surgem, se espalham e, muitas vezes, moldam a forma como nos expressamos, nos comportamos e até como vemos o mundo à nossa volta. Basta um clique e estamos, sem querer, a fazer parte de uma manada digital.
Quando todos dizem o mesmo, e tu também
Há momentos em que o feed se enche de um certo tipo de conteúdo. Lembras-te da altura em que tudo era “gratidão”? Ou quando ninguém publicava uma foto sem filtro e o brilho no olhar vinha mais da edição do que da realidade? Mais recentemente, surgiram os desabafos, partilhas sinceras de dor, de fragilidade, de tudo aquilo que antes se escondia.
Estas “ondas” não nascem do acaso. São reflexos do que se passa na sociedade, na cultura, na emoção colectiva, nos desejos partilhados. Quando alguém com muitos seguidores adopta um novo tom, uma nova palavra ou um novo estilo, a vontade de pertença faz o resto. Imitamos. Repetimos. Partilhamos. E os algoritmos, esses, aceleram tudo, empurrando para cima o que está a funcionar.
Fases que nos agarram sem darmos por isso
Ao longo dos anos, fomos passando por várias destas marés. Aqui ficam algumas:
- A fase da positividade: Era tudo sobre celebrações, conquistas e frases motivacionais. Quem não usou um “gratidão”?
- A era dos filtros perfeitos: O foco era mostrar a vida “bonita”, mesmo que por trás da imagem houvesse caos. Valia mais parecer feliz do que estar.
- A onda dos desabafos: Começámos a expor o lado vulnerável. A dor, o cansaço, o medo. Deixámos cair as máscaras ou pelo menos algumas.
Cada uma destas fases teve o seu tempo e o seu efeito. Algumas trouxeram leveza, outras autenticidade. Mas todas mostram como, online, o comportamento de um pode tornar-se o comportamento de muitos, em questão de dias.
A internet molda a nossa linguagem e até a forma como sentimos
Com o tempo, o vocabulário muda. A forma como escrevemos e falamos reflecte aquilo que vemos. E isso tem consequências. Por um lado, pode aproximar, criar empatia, fazer-nos sentir parte de algo. Por outro, pode gerar pressão para estar “na onda”, mesmo quando não nos identificamos com ela.
É fácil perder a autenticidade no meio de tanta repetição. Esquecemo-nos de que nem tudo o que parece espontâneo nas redes é, de facto, verdadeiro. E a sensação de comparação constante, de que temos de estar sempre a par, pode esgotar emocionalmente.
É possível resistir à manada?
Sim, mas dá trabalho. Exige presença. Consciência. E uma certa coragem para não seguir o que todos seguem. Escolher o que partilhamos, o que consumimos e, acima de tudo, como nos queremos mostrar ao mundo, é um acto de liberdade e de cuidado com a nossa saúde mental.
As redes sociais são, no fundo, um espelho do nosso tempo. Mas também podem ser um lugar de escolha, de pausa e até de resistência. O mais importante é lembrarmo-nos de que não precisamos de estar sempre na corrente para pertencer. Às vezes, ser diferente é o que mais nos aproxima de quem realmente somos.