Quem já viveu uma crise de ansiedade sabe: o corpo parece entrar em curto-circuito, e a mente, que antes era aliada, torna-se um lugar caótico. O coração dispara, a respiração fica descontrolada, e há uma sensação avassaladora de que algo muito errado está a acontecer.
Mas e se soubesses o que está a acontecer dentro do teu cérebro nesse momento? Compreender o que se passa é o primeiro passo para lidar com mais calma e confiança.
A amígdala entra em alerta, mesmo sem perigo real
No centro do cérebro está a amígdala, uma pequena estrutura responsável por processar emoções como o medo e identificar ameaças. Quando esta parte do cérebro detecta algo “perigoso”, mesmo que não o seja de facto, envia sinais para o corpo reagir como se estivesse em risco.
Esta resposta, conhecida como “luta ou fuga”, é útil em situações reais de perigo. Mas em pessoas com ansiedade, a amígdala torna-se hiperreactiva, disparando o alarme com demasiada frequência.
O corpo responde como se estivesse em emergência
Assim que a amígdala dá o alerta, o corpo liberta uma onda de hormonas do stress: cortisol, adrenalina, noradrenalina. Estes químicos preparam-nos para reagir rapidamente, mas em excesso podem causar sintomas desconfortáveis:
- Coração acelerado
- Falta de ar
- Suores frios
- Tensão muscular
- Sensação de desmaio ou de que algo muito mau está prestes a acontecer
É uma reacção física legítima, mas desproporcional à realidade do momento.
O lado racional do cérebro fica em segundo plano
Enquanto o corpo entra em alerta máximo, a parte do cérebro responsável pela lógica, o córtex pré-frontal, perde temporariamente o controlo. A comunicação entre este e a amígdala torna-se fraca, o que dificulta pensar com clareza ou perceber que, afinal, estás seguro.
É por isso que durante uma crise surgem pensamentos catastróficos e a sensação de “não estar no controlo”.
Como quebrar este ciclo e ajudar o cérebro a acalmar
Apesar de parecer impossível no meio da crise, há formas eficazes de sair desse estado. Tudo começa por actuar directamente sobre o sistema nervoso:
- Respiração lenta e profunda: inspira pelo nariz, expira devagar pela boca. Esta acção envia ao cérebro o sinal de que estás em segurança.
- Mindfulness ou meditação: ajuda a trazer o foco para o presente, a reconectar a lógica e a desligar o alarme da amígdala.
- Movimento físico leve: uma caminhada, alongamentos suaves ou mudar de ambiente pode aliviar a tensão e redireccionar a atenção.
A terapia pode ensinar o cérebro a reagir de forma diferente
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma das abordagens mais eficazes no tratamento da ansiedade. Permite identificar os pensamentos que alimentam o medo e substituí-los por perspectivas mais equilibradas.
Com o tempo, a prática constante ensina o cérebro a responder de forma mais calma, tornando a amígdala menos reactiva e fortalecendo a capacidade de regulação emocional.
O estilo de vida é parte da solução
Além da terapia, pequenas mudanças na rotina fazem uma grande diferença na forma como o corpo lida com o stress:
- Praticar exercício físico regular
- Ter uma alimentação equilibrada, rica em nutrientes
- Dormir bem e respeitar o ritmo natural do corpo
Estes hábitos reforçam o equilíbrio hormonal e fortalecem o sistema nervoso, ajudando a prevenir crises e a viver com mais estabilidade emocional.
Entender para transformar
Saber o que acontece dentro de ti durante uma crise de ansiedade não elimina o desconforto na hora, mas dá-te ferramentas. Traz clareza. Mostra que aquilo que estás a sentir é fisiológico, compreensível e passageiro.
A ansiedade não precisa dominar a tua vida. Com conhecimento, apoio certo e pequenas acções conscientes, é possível recuperar o controlo e reencontrar a tranquilidade. Mesmo nos dias mais difíceis.